quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Presentes



Ele se retirava toda tarde por pertencer ao seu sofá como que por mágica.
Ela saía sempre como quem sai de viagem, mas voltou as mãos à cabeça
tentando lembrar o que lhe faltava em suas coisas.
Ele não conhecia ela.
Ela nunca tinha visto ele.

Ele colocou comida para os cachorros, desligou Caetano que ressoava aos fundos e
desceu as escadarias pensando e remexendo as moedas que estavam em seus bolsos.

Ela, colocou a mão a maçaneta, empurrando a porta emperrada com força e quase bateu
a porta nele.

Ela levantou os olhos e apenas deu um sorriso.
Ele levantou as sobrancelhas e até mostrou os dentes, encantado com a sutileza daquele
sorriso que recebia inesperadamente.

Ela voltou em casa.
Ele saiu de casa.

Eles sempre se encontram, mas nunca pronunciam uma palavra, pois seus olhos sempre
dizem tudo aquilo que é necessário.
Eles trocam presentes que guardam na alma para o resto de uma vida.

(Ju Fernandes)

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