sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Pequeno aparte para confundir mais.




Uma mistura de Caio Fernando Abreu,
Fernanda Young e meu nó na garganta,
que ninguém dês-faz

.
Só nos sobrou contar histórias de amores impossíveis, desses que marcam nossa cama, nosso sexo, nosso ritmo. Ou então não contar absolutamente nada, esperar a terceira idade chegar rodeada de netos e ficar observando, da cadeira de balanço clichê, a vida escorrendo tão leve e suave quanto um novelo de lã.
Só nos sobrou, ou me sobrou, proVar que aparentes impossibilidades na realidade não só isso. Ou são. Ou que isso não importa, ou não provar nada, afinal, nós como nossa história, passaremos em branco. Afinal, isso que chamamos de vida parece com a morte, só que mais lenta.
Entre o ‘sou’ e o ‘posso ser’ o meu medo é chegar aos 40 e descobrir que eu nunca fui. Que eu, no meu medo mortal de jogar com a felicidade, não saí da toca, não fui atrás do coelho.
Nessa ponte entre dois nadas que viver é descobri na pele-viva que amores impossíveis nunca acabam. Vivem para sempre no meu-fantástico-mundo-de-bob, se alimentando da minha ilusão imatura de um feliz-para-sempre e do meu desejo inocente de por um sexo-intenso-e-entre-almas.
Amores impossíveis nunca acabam porque nunca começam, estão congelados no ‘se’, no ‘talvez-mais-tarde’, no ‘amanhã’. E o amanhã não existe, como o ontem, como você.
Então existimos um para o outro em algum momento?
E busco a lembrança mais antiga dela; a maneira como a conheci, como desde a primeira vez soube perfeitamente: o resto não seria ela. Por isso afirmo: sou, por culpa dela, o escritor que sou e por causa dela o infeliz que me tornei. E digo isto sem a menor intenção de perfazer algum personagem, como aquele que envelhece ciente e envaidecido da própria condição ridícula. Não; nada em mim, acreditem, assemelha-se à vaidade. Não hoje, não mais.
Sou um grande merda. Afirmo isso para ser mais exato com meu currículo. Até acredito que existam homens melhores que eu por aí, que se orgulhem de si mesmos com o passar dos anos; os que acumulam glórias em pastas de papel, todas bem guardadas em gavetas bem trancadas. Junto com os números das contas em paraísos fiscais e as despesas com filhos, e com filhos bastardos, e amantes, e esposas inúteis, e amigos drogados. Homens vaidosos do caos que regem. Eu? Eu sou o exato inverso disso.
Sou formado em contos de fadas, nunca cruzei cOm um adversário que pudesse disputar uma partida de desencanto comigo. Me vender na arte de colecionar amores impossíveis, histórias pela metade e mentiras.
É, mentiras. Mentiras porque não é seguro confiar em quem escreve; quem escreve sofre, mente, inventa. E no meu demente exercício de não fantasiar, fantasiei você, é você, e sim...dessa forma tão egocêntrica e romântica e banal. Na verdade, pra ser sincero uma vez nesta página, não sei se fui eu quem te inventou ou você que me construiu.
Então, é o que vou fazer: avisar. Avisar que continuo perdido, patético, procurando o tal amor. Cuidado comigo, mulher. Um dia eu encontro. Um dia eu te encontro. De novo. Em minhas fantasias.

"Quando não se tem imaginação, morrer não é nada;
quando se tem, morrer é demais.’’

Louis-Ferdinand Cèline, em Viagem ao Fim da Noite.

(Via: Stella Pessoa)