Eu-te-amo não tem empregos. Pode ser uma palavra sublime, solene, frívola, erótica, pornográfica, ou pode não ser nada. Posso passar meses falando eu-te-amo-eu-te-amo sem isso nada significar e sem dor alguma consciência. Não sinto culpa ao fingir amar, todos fazem isso é claro. Fingir amar é ter o que mostrar pra sociedade. Quem não ama é excluído e ninguém quer ser O excluído. Então montamos o circo do amor, ‘meu amorzinho’ pra cá, meu ‘tudo’ pra lá, ‘vamos nos casar’...casar pra que? Pra aumentar um motivo na lista do porque esconder que tenho um certa tara na sua amiga? Não, não...obrigado. Já tenho compromissos demais comigo.
O coração é um órgão de desejo. Ela aprecia mais meu espírito e meus talentos que esse coração, que entretanto é meu único orgulho. Porque meu coração, só eu tenho. Você me espera aí onde não quero ir: você me ama aí onde não estou. Ou ainda: o mundo e eu não nos interessamos pela mesma coisa: e, pra minha infelicidade, essa coisa dividida, sou eu; não me interesso pelo meu espírito; você não se interessa pelo meu coração.
‘Amar’ é uma palavra que se desloca socialmente. Dispensa explicações e é uma explicação, o que me mata de ódio quando alguém diz: ‘Eu te trai, mas eu te amo’. E ainda querem mesmo que eu acredite? As pessoas não, não amam. São condicionadas a aturar alguém e do sexo oposto, claro. Elas são tão limitas, frescas e nojentinhas. Pra mim...o amor entra quando o nojo sai. Ai sim, talvez, eu-te-amo."
(Texto de Stella Pessoa)