quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Eu te amo

''Passada a primeira confissão, ‘eu-te-amo’ não quer dizer mais nada. Na verdade não estou certa se a primeira algo de útil possa transmitir. E eu não poderia decompor essa expressão sem rir. Qual! Haveria ‘eu’ de um lado, ‘você’ de outro, e no meio um elo de afeição racional. Teria o amor algum elo com racionalidade? É racional gostar de alguém?
Eu-te-amo não tem empregos. Pode ser uma palavra sublime, solene, frívola, erótica, pornográfica, ou pode não ser nada. Posso passar meses falando eu-te-amo-eu-te-amo sem isso nada significar e sem dor alguma consciência. Não sinto culpa ao fingir amar, todos fazem isso é claro. Fingir amar é ter o que mostrar pra sociedade. Quem não ama é excluído e ninguém quer ser O excluído. Então montamos o circo do amor, ‘meu amorzinho’ pra cá, meu ‘tudo’ pra lá, ‘vamos nos casar’...casar pra que? Pra aumentar um motivo na lista do porque esconder que tenho um certa tara na sua amiga? Não, não...obrigado. Já tenho compromissos demais comigo.
O coração é um órgão de desejo. Ela aprecia mais meu espírito e meus talentos que esse coração, que entretanto é meu único orgulho. Porque meu coração, só eu tenho. Você me espera aí onde não quero ir: você me ama aí onde não estou. Ou ainda: o mundo e eu não nos interessamos pela mesma coisa: e, pra minha infelicidade, essa coisa dividida, sou eu; não me interesso pelo meu espírito; você não se interessa pelo meu coração.
‘Amar’ é uma palavra que se desloca socialmente. Dispensa explicações e é uma explicação, o que me mata de ódio quando alguém diz: ‘Eu te trai, mas eu te amo’. E ainda querem mesmo que eu acredite? As pessoas não, não amam. São condicionadas a aturar alguém e do sexo oposto, claro. Elas são tão limitas, frescas e nojentinhas. Pra mim...o amor entra quando o nojo sai. Ai sim, talvez, eu-te-amo."
(Texto de Stella Pessoa)


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Coisas minhas que eu não te conto...


Fico perguntando se você é de verdade, ou apenas meu coma alcoólico porque não dá para encarar tanto prazer de uma só vez sem desconfiar.

E ainda mais forte que a desconfiança do ilusório, é a sensação de real e concreto que seu abraço me passa. Tão sentido, tão forte, tão doce, que, pés no chão, tudo que percorre meu corpo parece tentar me desconcertar e me abalar.
Não, não... só pode ser mentira.
E desde há muito tempo, espero alguém assim inusitado e espontâneo e às vezes fico assim te olhando e rindo, rindo do meu coração disparado a dissipar uma catarse aqui dentro.
Tenho certeza que você não entende o quanto isso tem sido importante. Era o meu mapa de tesouro. Não saber disso faz com que seja ainda melhor.
Eu respiro fundo todas as vezes que meus olhos encontram os seus, mesmo porquê, tento te encarar com a mesma objetividade da qual sua presença me priva.
E nessa briga entre me entregar ao sublime e manter um gesto calculista, me reviro do avesso, uma, duas, três vezes, buscando saber qual parte de mim te deseja, qual tem medo e qual não te quer.


Mas todas te querem...
(Letticia Do Vale, direto do Mundo de Alice)