quinta-feira, 23 de junho de 2011

O segredo da longevidade

 A foto é a mesma que do ano passado,quem acompanha o Caixote sabe,mas eu vou explicar o motivo.
Essa senhorinha da foto odeia tirar fotos,ela briga com quem tira foto dela,é bravona...rs
Então,essa foto é do ano passado,mas com certeza a mais recente...rs
Hoje minha vó completa 88 anos de idade.
88 anos de idade,bem vividos,do jeito dela,mas muito bem vividos,isso eu tenho certeza.
Eu estou realmente muito cansada,acabei de chegar da faculdade agora,mas pela escassez de tempo,
é a única hora que eu tenho pra falar um pouquinho sobre ela e relatar o meu verdadeiro fascínio por uma pessoa de quem me orgulho tanto.
Bem, são 88 anos né ? Não tem como passar em branco uma data com essa.
Com certeza hoje,como nos outros dias ela acordará as 5:30 da manhã com as galinhas,irá colocar o bule no fogão.
Fumegando, aquele cafezinho, com o melhor gosto do mundo ficará pronto com exatidão num estalar de dedos,e é nesse momento que com certeza algum neto,bisneto,filho,amigo,irmão,irá passar pra lhe dar um abraço e lhe desejar felicidades.
Daí com aquele sorriso cativante,aquele jeitinho mineiro encantador e aquela prosa que amarra,ela vai te sugar pra uma dimensão paralela sabe...
Aquela dimensão onde somente ela reside e que para entrar tem que ter visto na portaria.
Poucos pessoas compreendem tanto a minha vó quanto, e são poucas as pessoas,entre filhos,netos e por aí vai que destinam algum tempo pra ela.
MAS EU, ha!ha!...eu grudo na minha véinha com a maior facilidade do mundo,sabe porque ?
Ela é a coisa mais gostosa do mundo.
Acho que ninguém tem tanta intimidade com ela quanto eu,mas isso é todo um processo né.
A minha vó foi uma pessoa que aprendeu muito cedo com a vida.
Aos 7 anos de idade perdeu a mãe,teve que criar seus irmãos,por conta disso não teve muito tempo pra estudar,morou com a madrinha,se separou dos irmãos,enfim...
Viveu,viveu,viveu muito...construiu uma linda família com meu avô, teve 6 filhos,sendo que o primeiro que se chamava Renato morreu quando recém-nascido.
Ela juntamente com meu avô batalharam muito,criaram os 5 filhos com muito raça,educação e coragem,porque antigamente as coisas eram feitas na base da coragem,de encarar o destino e lutar pela felicidade realmente,as pessoas não viam o parceiro como poço de dinheiro,ou alguém que daria uma vida melhor.
Antigamente,as relações eram realmente baseadas na confiança,respeito,amor,cumplicidade,dentre outras tantas qualidades que estão desaparecendo hoje em dia..
Ela batalhou muito,se tornou essa mulher forte e destemida a qual eu tanto respeito e admiro.
Te digo que sou fã de carteirinha dela e todo mundo sabe disso,porque ela é um dos maiores exemplos de vida que tenho próximos a mim.
A minha vó,é bem minha e esse pronome possessivo não é em vão,porque nessa hora eu prefiro deixar a modéstia de lado e falar a realidade sem mascarar os fatos,porque é assim que as coisas acontecem e tem que ser ditas e problema de quem vai achar o que, eu não me importo.Se a sua consciência doer ao ler isso, sinal que você(leitor) precisa dar mais atenção a quem te remete tanta coisa boa,mas voltando ao assunto..rs
A minha vó é de uma vivacidade que as vezes chega até a espantar.
Eu nunca vi minha vó abatida,ela sempre está ali prestativa,solidária a quem quer que seja,vivendo,amando a vida como tem que ser e não existe lição mais linda que essa.
A Dona Silvia é uma pessoa sistemática,isso é fato, pra conseguir convencê-la de ir no médico é uma luta, pra entrar no carro pra ir no médico mais outra luta.
Como ela diz:
"Pra que fazer exame de sangue? Eu tenho o dono ano passado,não serve ?"..kkk
É bem assim, é difícil lidar com ela nesse sentido,porque ela tem uma razão absurda nas coisas que diz,então pra realmente convencê-la de que algo é necessário, o argumento que vai ser sugerido tem que ser realmente necessário,verdadeiro e consistente.
Ela tem um sexto sentido brilhante, e eu creio que a nossa sintonia não é coisa desse mundo...rs
Toda pessoa tem um dia complicado,aquele dia que vem após o outro, e eu sempre fui muito reservada nesse sentido,e quando acontece alguma coisa que me entristece, eu realmente gosto de ficar mais dentro de casa do que já fico e as vezes fico dias sem sair de casa, e ela percebe isso na velocidade da luz!
Mas a abordagem dela é o que mais me espanta,não pela sutileza,mas pela sagacidade de não te entregar a resposta do problema,mas sim de te ensinar a buscar a solução.
Ela quando sabe que estou meio cabisbaixa, do seu jeitinho de ser,me manda uma panqueca ou algum dos quitutes convidativos que trazem qualquer um de volta a vida e muda meu dia instantaneamente,e isso é recíproco.
Tem dias que eu passo, e sinto que ela está com alguma pulguinha atrás da orelha,eu apenas sinto,porque a minha vó não reclama das coisas,mas quem convive com ela ali sabe como as coisas funcionam...daí...
o que que eu faço ?...Chego junto...
Chego junto e dou uns agarrões ( agarrão= abraço mais que gostoso) , compro uma coisa que ela adora comer pra se deliciar até dizer chega e por aí vai.
Tem que ter muito jeito pra lidar com ela,e eu tenho esse jeitinho.
Eu gosto de estar perto dela,eu gosto de ouvi-la,eu gosto de conversar com ela, eu amo tudo isso sabe..
E toda essa vontade as vezes rende uma tarde inteira...rs...
Eu sento com ela e começo a perguntar e ela conta todas aquelas histórias mirabolantes..
"porque assim ,assado ,na época da guerra" e tal...e o assunto rende e eu amo ouvi-la.
Eu me delicio com ela,com cada segundo,cada palavra,cada "agarrão",cada beijo,cada carinho,cada olhar,cada mimo,porque a vida é isso e poucas pessoas conseguem enxergar,infelizmente,ou felizmente,sei lá.
Minha vó não da intimidade pros outros,foi complicada essa aproximação,mas eu fui chegando e hoje em dia não fico um dia sem dar uns "agarrões" ,umas beijocas,uns mimos...
Ontem mesmo ela toda preocupada veio me perguntar como estava o resfriado.
Aí eu disse que ainda estava me recuperando,abracei ela e ficamos ali conversando,daí ela:
"ô minha filha,fica um pouquinho aqui no sol,porque faz bem,tá muito frio esses dias"
Daí eu vou lá fico abraçadinha com ela no sol,vendo o tempo passar,os carros atravessarem a rua,as crianças passarem pelo passeio falantes e serelepes indo pra escola...rs
E te digo,esses são os melhores dias do mundo,são presentes,que pouca gente dá valor.
São presentes que muita gente reconhece na fala,mas não no ato em si.
Eu sou o inverso, eu valorizo muito o ato.
Valorizo porque são 88 anos vividos e ela mais do que qualquer pessoa pode me orientar,me mostrar o que é certo e o que é errado sem precisar emitir uma palavra sequer.
Ela é capaz de me passar valores através de um olhar e isso ,meu amigo,não tem dinheiro que compre no mundo.
Tô falante né...
Bem,sem mais delongas,quem conhece essa  peça rara sabe bem do que estou falando e peço a Deus todas as noites que ela continue assim,com muita saúde,felicidade e tudo de fabuloso que possa existir.
Amo muito a senhora,Dona Silvia e obrigada por estar ao meu lado sempre,me mostrando a vida,seus valores e tudo que possa existir no percurso de uma maneira tão gentil,humilde e bela.
Obrigada.

Obs.: tô muito cansada realmente,as letrinhas estão dançando nos meus olhos feito formiguinhas...rs
Por hora é uma homenagem singela.

P.S.: Ah...o segredo da longevidade ?!...é viver assim como ela vive, um dia de cada vez,na intensidade certa,com as palavras certas na hora certa,no lugar certo,com sentimentos verdadeiros,com a fala arrastada e tradicional do bom mineiro que sabe como conduzir as coisas sem medo de ser feliz.
É assim...a verdade,a vida,o amor,a família, o carinho.Tudo isso,pois é,muita coisa né...mas ela sabe disso,por isso que creio que para longevidade exista relmente uma fórmula mágica e ela detém dessa receita de vida formidável.
Que Deus continue abençoando a senhora e eu a agarrando eternamente em dias de inverno em que o sol faz carinho.

Um comentário:

  1. "E te digo,esses são os melhores dias do mundo,são presentes,que pouca gente dá valor.". Concordo plenamente contigo. A minha, digo, nossa Vó Júlia foi antes que eu pudesse dizer tudo que eu queria, quando eu ainda tinha oito anos de idade e fico feliz que tenha essa consciência e trate da Dona Silvia com esse amor. Tem gente que se envergonha de amar. Nós... não. Abraço irmãzinha.

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