quinta-feira, 17 de junho de 2010

O Escafandro e o Mentecapto


Com a ventania as roupas no varal fazem o quintal se transformar
num parque de diversão.
O sol nessa época do ano é tão gostoso feito um cafuné.
O menino que brincava de bola na rua,é o mesmo que solta pipa
e que esquentava o termômetro no abajur para fingir o estado febril.
Matar aula e ficar em casa, no seu mundo encantado de dragões,heróis,
índios que lutam contra homens maus.
No quarto ao lado,sua irmã adolescente confabulava sonhos com o príncipe encantado,o mesmo que estampava os pôsters colados na parede.
A noite eles sempre se amontoavam no sofá para ver Tv,enquanto o irmão mais
velho se trancava no quarto onde lia Nietzsche,escrevia e achava a vida um
tanto quanto monótona.
As férias estudantis se aproximavam,era tempo de se divertir.
O menino acordava cedo e corria pra rua para encontrar os amigos e
se aventurar.A irmã se pendurava ao telefone com a amiga para contar
sobre o garoto que lhe piscava nos corredores da escola.
E o irmão mais velho transitava pela cidade.Comprava cd´s,livros,filmes e
assim construia os alicerces da sua idelologia.
Ele era ligado em cinema,debatia sobre política e delirava ao som dos Beatles.
Sua mãe estressada,cansada e inconformada,perambulava anciosa pela casa
como se estivesse a procura de algo.
O pai era um escritor renomado que vivia na frente do computador,
com seus cabelos desgrenhados,sua garrafa de café fumegante e tinha
milhões de trejeitos e gesticulava o tempo todo,suas mãos diziam muito.
Ele não admitia barulho por isso se trancava no seu escritório onde ficava
o máximo de tempo que sua criatividade permitisse.
Jean P.,tinha a curiosidade aguçada,foi ao escritório de seu pai,escondido ligou
o computador para ver em que seu pai trabalhava e saiu rapidamente sem deixar vestígios.
Eram tempos difíceis,sua mãe esbravejava irritadíssima contando a vizinha que havia sido
despedida injustamente depois de longos anos dedicados a sua empresa.
Seu pai descabelava-se , os editores lhe deram um prazo mínimo de entrega que já
estava se esgotando.
Ao ver todo aquele furdunço,Jean P.,preferia se refugiar no seu quarto.
Ligou o computador e começou a ler o arquivo em que seu pai estava trabalhando.
Era um texto harmonioso,que contava 400 páginas,mas que havia estagnado em certo ponto.
Após ler aquilo tudo seu cérebro fervilhou,ele desceu as escadas e deu de topo com seu pai
e perguntou:

_ E o livro ?

Seu pai estava com as unhas na cabeça,mas sem demonstrar que estava aflito,fez alguns
rodeios e saiu apressadamente com as chaves do carro nas mãos.
Jean P.,era consciente da situação em que se encontrava.
Saiu de casa com a mochila nas costas e foi para o bosque.
Ele ficava ali sentado embaixo de uma árvore frondosa,observava a natureza em silêncio.
Aquilo o fazia renascer,ficando mais vivo e livre.
Ali era o seu lugar preferido,era o seu lugar,onde tudo cabidamente o preenchia de sutilezas.
Por horas seus pensamentos vagaram,entre nuvens e pássaros até que o sol começou a cair
alaranjando o céu,era tempo de voltar pra casar.
Tomou um longo banho quente quando chegou em casa,enquanto o vapor tomava conta
do banheiro e seus dedos ficavam enrugados ele teve um insight.
Mal se secou,sai correndo e se trancou no seu quarto,onde escreveu incessantemente cruzando
a madrugada.
Debruçado sobre os papéis,ele acordou com a cara amassada.
Saiu de seu quarto, ainda mole.
Seus pais haviam saído,assim Jean P. foi encontrar com seus amigos.
A noite ele deu o back up para que seu pai lesse o que ele havia escrito.
Os dias passaram voando e as férias chegaram ao fim.
Era tempo de retomar as aulas pela manhã,com atividades complementares à tarde e
atividades físicas também.
General Vieira Neves,473 ...seria o local,uma livraria aconchegante no centro da cidade,
que era reduto de intelectuais, críticos e artistas.
Todos se arrumaram colocando a melhor roupa que tinham e foram para a livraria.
Entre empurrões e cotoveladas a disputa pelo espaço era quase animalesca.
Fotógrafos afoitos pela imagem perfeita,tentavam se aproximar ao máximo para capturar
o melhor ângulo expressivo enquanto os pequeninos abriram caminho estando plantados
e sorridentes ao lado do pai.
A esposa entrevistada sorria para as câmeras,mas Jean P., não conseguia ultrapassar a barreira
humana que estava a sua frente,mesmo com a ajuda da organização do evento.
Com o livro nas mãos,foliou algumas páginas e começou o seu discurso.

_A concepção dessa obra é exclusivamente dedicada à minha família que sempre me apoiou
dando créditos para que sempre a arte fosse a razão maior.Eu gostaria de enfatisar uma citação.

"É preciso uma casa com o pé direito alto, para que nela caibam todos os sonhos do mundo"


Fez-se uma pausa e ajeitando os óculos,notava-se os olhos marejados.Retomando o fôlego,ergueu
a cabeça e disse engasgado:

"Às vezes passamos afobados pela vida em busca de respostas,mas sem saber qual a pergunta crucial a ser feira.Contudo,é necessário uma breve pausa para sabermos o que temos,só assim
saberemos verdadeiramente,quem somos."

A platéia que estava em silêncio instantaneamente ovacionou o autor.
Para concluir o raciocínio, ele completou:

_Gostaria de salientar que a citação que fiz a cima foi de meu filho,Jean P.,o qual com sabedoria,
sensibilidade e perspicácia me apresentou o mundo através de um novo olhar.

Thomas Austen,naquele outono do ano de 1992,foi um dos autores mais vendidos.
"O Escafandro e o Mentecapto" , rendeu resenhas críticas essênciais pressupondo o existencialismo através do caráter libertário e ético-racional.

2 comentários:

  1. Posts cada vez melhores Jú.
    Parabéns!!!

    Ps: É dificil esquecer um beijo que é calmo e macio???

    beijos
    =D

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  2. Obrigada caro leitor,

    fico satisfeita em saber que esteja apreciando
    a literatura no Caixote

    P.S.: Quanto a "beijos",não sei me expressar.O beijo que mais desejo se perdeu dos meus lábios a mais de 1 ano.
    O amor realmente é uma arte,cultive-o quando houver reciprocidade.
    Boa sorte na vida,no amor e uma ótima literatura!

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